quinta-feira, 30 de julho de 2015

A LEVEZA DOS ANOS


Aos 5 conviveu com o pai deficiente na cama 
Aos 6 sonhou ser jogador de futebol 
Aos 7 repetiu a primeira série 

Aos 8 começou a brigar na rua
Aos 9 tomou seu primeiro porre
Aos 10 já não prestava atenção na aula
Aos 11 começou questionar os pais
Aos 12 não suportou a separação dos pais
Aos 13 começou a "pixar"
Aos 14 começou a sacar a humilhação
Aos 15 tomou um cassete da rota
Aos 16 começou ser mão de obra explorada
Aos 17 começou a grafitar
Aos 18 pensou conhecer o amor
Aos 19 tentou entrar na universidade
Aos 20 continuou sendo explorado
Aos 21 ainda não sabia nada
Aos 22 prestou Unesp
Aos 23 passou na Unesp e fracassou
Aos 24 renasce a escrita morta
Aos 25 desemprego e bicos
Aos 26 mãos calejadas para construir a goma
Aos 27 entrou na Usp
Aos 28 pesou 48kg
Aos 29 quebra um teco da casca do coração
Aos 30 parecia ter reavivado sonhos
Aos 31 se sente um copo descartável
Aos 31 vê Dener e/ou Catarina só em lágrimas
Aos 31 o coração sangra
Aos 31 só gostaria que fosse 31
Aos 31 ainda arranca sorrisos dos filhos de amigos
Aos 31 não carrega certezas
Aos 31 só pensa na hora da última dormida
Aos 31 cansado de sobreviver não sabe viver
Aos 31 "aquele abraço..." 

segunda-feira, 27 de julho de 2015

PRENDEdor


PRENDEDOR 
PRENDEDOR 
PRENDEDOR 
PRENDEDOR
PRENDEDOR
  PRENDEDOR...

PRENDE a DOR no coração até suportar
Solte a refém
E no dia em que a dor não for mais dor
Me conte sobre tal experiência
Quem saiba assim eu deixe de ser
Um reles PRENDEdor. 

M A R G I N A L


Na margem Cinquenta não é onça, é galo !

Na margem Sessenta, sessenta, cê senta...
e espera o Estado te respeitar e vira caveira.

Na margem Setenta, setenta, cê tenta...
não apanhar o fuzil e guerrilhar mostrando como se faz.

Na margem tem aquele que EXPRESSA de maneira coerciva o LOCAL que considera ser seu por destino, se julgando o CENTRO da ervilha chamada mundo.

Na margem não tem prédio espelhado e ar condicionado pra tentar apagar a vista e o odor de rio de merda.

Na margem o farol alto está aceso desde as 4 da matina e muitas vezes as setas para trocar de faixa são acionadas pelo capital que torna o esqueleto nojento.

Na margem, Cinquenta, Sessenta, Setenta, Oitenta, Noventa, Noventa, Noventa...

Cem !

Sem, sem, sem esquecer que o combustível da margem um dia será utilizado na e para a margem...
sendo assim, reclame mesmo de tanque cheio enquanto pode ou acha que pode. Vai, vai, vai, bufe alto.

E por aqui esse condutor bração continua reduzindo a velocidade e seguindo na moral...

Sim, enquanto uns querem luxo o bração faz questão de se firmar M A R G I N A L.

MADRUGADA


Minhas madrugadas sem sono 
São como meus dias sonolentos.
Meus tempos não são iguais meus sonos 
Sendo assim...
Acordei numa escuridão só para que
meus ponteiros girassem ao contrário 

AS ESTRELAS, SEUS BRILHOS E MINHAS BRISAS


Os olhos procuram no céu estrelas cadentes 
A brisa noturna arrepia a espinha 
Avisto íris ofuscadas e corações carentes 
Madrugada gelada que ali era só minha

Cada segundo eternizado num mundo calado
Solo árido num peito tão seco
Uma face alagada e um caderno encharcado
Borrou-se as palavras perdidas num beco

A lua não quis chamar atenção
As nuvens foram bailar
Os deuses dormiram no chão
E meus pensamentos... Aqueles não pude cessar

O reflexo nas águas não brilhava pra mim
O morro esverdeado eu pensei colorir
Levantei-me tão cinza em busca de um fim
E com olhares sangrando vi algo estranho se abrir

Eu, vagalume esticado depois da perca de luz
As ondas quebrando em meu corpo imobilizado
Ao longe um vendaval, que enfim me seduz
E um sopro no ouvido ecoando "mano, você é um zoado"

A tempestade fez o mar bravejar
O pulsar no tórax acelerou bruscamente
Um clarão no meu íntimo me forçou despertar
E até hoje não sei, se toquei numa estrela cadente ou numa estrela carente. 

NÃO DESACREDITA NÃO...


Na brasa periférica sou maloqueiro nato 
Calça larga, bombeta, nada de verso imediato
Poesia que surge da reflexão e do coração atento
Olhos esbugalhados que me tiram da condição de só lamento
Envolvimento em pensamentos chamados de dedo na ferida
Meus pares morrem, reaça aplaude e a vida prossegue sofrida
Me sensibilizo ao falar das flores e dos exalares de seus perfumes
Mas, num rio de sangue luto para que não continuem boiando nossos cardumes
Opressão policial, opressão do capital, opressão coletiva e individual
Aqui a ação do marginal, a ação da palavra frontal, é soco no peito do preconceituoso boçal
Não necessito de palco mas, se eu estiver nele, beleza !
Sou grato pelo chão, rimar na rua e tentar afastar um pouco a tristeza !
Não fui aprovado no padrão de qualidade do inmetro, tá ligado
Minhas poesias não precisam de rótulos para que eu seja um escritor aclamado
Sou a ralé da escrita, as águas nas guias da literatura
Meto-me a besta a escrever só para cutucar seu ego, chamado censura
Cansado de comentários raso vindos de onde o nariz aponta
Estes versos pretendem deixar pinóquios mais perdidos que barata tonta
Surfei nas ondas da ingratidão e desci as ladeiras do terror
Agora tento pegar rabeira no imaginário de quem me faz acreditar no amor
Educação tá na mente e no coração, grafada no braço se tornou meu escudo
O saber não compartilhado se mostra como livro na estante fechado e mudo
Mundão para gritar comigo toda hora e sussurra um pouco por favor
Já pedi isso antes e ai de mim se não me armasse e fosse pra batalha como um gladiador
Sou Sarau da Brasa, Elo da Corrente, Samba do Congo, sou Brasilândia
Troco olhares com nossa gente depois do dia longo e não sonho com diversão artificial de Disneylândia
Vou nessa dizendo que o tal do Michell pode ser pra você um ser que tanto fez ou tanto faz
Mas, ainda não sabe muito do que o tal do Chellmí é capaz. 

INSÔNIA

NÃO CUSTA NADA OU O NADA NÃO TEM CUSTO ?


Quiseram comprar minha identidade 
Comprar minha andança 
Comprar meu chinelo de dedo 
Comprar o pouco que escrevo
Comprar meu raro sorriso
Comprar nossas ruas de terra
Comprar nossos dedilhados autodidatas
Comprar minha loucura
Comprar meus máximos 3% de doçura
Quiseram comprar meus olhares
Comprar o gingado do meu corpo
Comprar a tradução das nossas gírias
Comprar meus passos nos ares
Comprar meu rastejar em terra batida
Comprar o que pensei
Comprar o que nunca cantei
Comprar a vista grossa
Comprar a prazo de estupidez
Quiseram me colocar na vitrine
Comprar os cacos das palavras, fiado
Comprar um nada que não tem valor
Não tendo o que vender, não vendi
E neste exato momento...
Sou as moedinhas de troco de uma literatura de qualidade incalculável. 

"SOFRIMINTO?"


Se minto sobre a veracidade da violência 
Transpondo feições de indignação 
Meus punhos nas lutas por clemência 
Ainda se fecham diante da militarização

Meu habitat periférico não me tira do centro
As poças de lama deram lugar às de sangue
Matam sonhos decepando cabeças aqui dentro
Os projéteis nas favelas não são de filmes de gague

O céu azul permanece nublado com o extermínio
Vielas com sirenes e corpos sem ar
Estraçalham humanos para manterem o domínio
Se estou mentindo, qual verdade irão me contar ?

Brasil de farda opressora
O galo nem canta mais na madrugada da quebrada
Calibres hostis maquiados de sensação protetora
Enquanto a lágrima escorre, a elite se agrada

Grande mídia podre e nojenta
Menos de 1% é leal
Quem não virou marionete não aguenta
Vocês não valem 1 real

Reduza a maioridade e se prepare para o tormento
Hecatombe dos nossos tira o sono
Quando o opressor cair não restará nem lamento
Xerox ou ampliação de vidas em papel carbono

Sofro e não minto nesta guerra evidente
Que me joguem na vala ou me deixem aos ventos
Acabaram com a vida duma criança inocente
Isso não é "sofriminto" nunca irão entender nosso reais sofrimentos.

CARREGADOR


Acordou leão cheio de energia
Rugiu, foi valente até quando pôde
A bateria parecia não querer acabar
Esbravejou, subiu no último degrau da escada
Quis tocar as nuvens
Parecia um pisca-pisca de natal
Cheio de brilho e marra
Enfureceu-se diante do que considerava caça
Pulou da escada e mergulhou num rio doce
Nadou de costa, boiou, deu braçadas e bateu pezinhos
E nada da bateria acabar
Saiu da água, seguiu na direção do nariz
De tão empinado pegou a rabiola na mão
Guardou as gotas da chuva no seu chapéu
E esbarrou no Bem-Te-Vi
Ao entardecer o sol lhe encarou
Com raios certeiros tonteou o pedregulho
Ao cair observava o sol partindo
E ao mesmo tempo a lua surgindo
Imóvel e sem voz só os olhos falavam
Gritavam, "eu sou forte, eu sou forte"
A lua apertou suas mãos e lentamente
Colocou-as sobre seu peito
Naquele momento a luz vermelha do coração
Foi se apagando e seus olhos parando de gritar
E ainda hoje a terra se pergunta
"Até onde podemos CARREGAR a DOR ?"

SerMano


Pintei de amarelo a torta linha cinza
Depois escorreguei num Arco-íris 
Ouro 24 quilates era um lápis apontado no fim
Avistei uma gota triste escorrer
Escondi meus vermelhos brilhantes
Toquei no rosto, toquei na mão
Queria tocar no coração
Dar um beijo na mente
Bem lá dentro para aliviar
Arranquei sorrisos
Até palavras embaralhadas
Me senti um grãozinho minúsculo
Um vento que soprava fraco
Mas, minha vontade
Minha vontade...
Essa navegou em oceano positivo
Firmou o sangue das veias
Passados 20 minutos
Os passos até o portal
Duraram segundos
Vermelhos brilharam novamente
E eu olhei para o céu e pensei
"Fraquejar não é a meta"
Ajeitei a bombeta e andei calmamente
Apanhei a nuvem que parecia uma estrela
E a cada manhã a tiro do bolso
Só para reluzir na face dela
Logo menos espero ter seu brilho
Diante dos meus vermelhos de felicidade.

AS IDAS SEM VOLTAS


A cantoria falhou
Os ouvidos fecharam
O peito parou

E assim lhe deixaram

Triste foi o fim
Do começo inexistente
O choro se tornou jardim
Pra quem bancou pensar diferente

Homem inútil
Mulher forte
Sujeito fútil
Não foi falta de sorte

Um passo por vez
Uma noite sem sono
Quem saiba talvez
Deixe de ser um mero carbono

Tem o dom pra estragar
Não sabe porque existe
Não tem o dom pra amar
E assim o rascunho resiste

A casca é fina
O coração já não bate
Tortuosa esta sina
A cada suspiro um embate

Falou de carinho e atenção
Foi oco e raso
Se perdeu na multidão
E só, sente o descaso

Mergulhou no asfalto
Voou em alto mar
Caminhou sobre nuvens com salto
Fechou os olhos e não conseguiu mais sonhar

Seu olhar mareja diariamente
Vozes ecoam na tua cabeça
O figura se tornou indiferente
E deseja que todos o esqueça

A simpatia é o que resta
Só a Educação pra movimentar
Lambeu com os olhos e comeu com a testa
Não encontrou forças nem pra se ancorar

Assim ele seguiu sem rumo
Em passos curtos e pequenos
As letras tornaram-se materiais de consumo
Num mundo em que o fez degustar os piores venenos.

ARRISCANDO


O colorido dos olhos chamam atenção
As borboletas cansadas continuam voando
No céu as nuvens trazem inspiração

Nos ares da poesia prosseguimos planando

Inúmeras viagens com a caneta
Infinitas reflexões com o papel
Para que o natural não seja canhão e escopeta
As palavras amargam e adoçãm feito o limão e o mel

As tintas nos muros incomodam e encantam
O rosto abatido traz interrogações
As fardas de longe espantam
Vozes certeiras que alcançam seus corações

Do muito que se mistura ainda existe separação
Nas divisões impostas há sempre um perdedor
Enquanto houver segregação
Haverá um lado que sofra com a dor

Que os passarinhos não parem de cantar
Que as cores continuem vibrando
Que o pé de sonhos continue a frutificar
E que os poetas destas frutas sigam degustando

"Quem nunca viu doce se lambuza" diz o ditado
Viver do azedo nem sempre é agradável
Ao invés de observar meu redor como um coitado
Me arrisquei escrever o que será sempre inefável

SONHOU SEUS SONHOS


Nas profundezas da tristeza ele navegou
Nos ares da infelicidade foi obrigado a planar
O ferimento do seu coração nunca cicatrizou
Escondeu-se do mundo e poucos viram sua lágrima rolar

Água bateu na bunda ele aprendeu a nadar
Sua fraqueza alada danou-se a voar
Aprendeu detectar mentiras, um potente radar
Enterrou-se vivo para sua poesia se sufocar

Subiu em árvores para fugir do concreto
Desceu morros e encontrou-se com malandros
Engoliu o choro e aprendeu ser discreto
Descartou os curvas de rio e aloprou os meandros

Deixou de ser espada e se tornou escudo
Preferiu continuar “burro” que bancar o intelectual
Grita quando acorda, grita quando dorme e continua mudo
Tornou-se boxeador que só acerta gancho sentimental

Pisa em nuvens e ovos com a mesma cautela
Tornou-se rabugento e nem sempre é risonho
Articula magia entre os becos e vielas da favela
Por mais que você não entenda... Ele sonhou o seu sonho.